quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

As Muralhas


Em toda história das civilizações, desde a Babilônia, às cidades gregas, chinesas e tantas outras, as muralhas estão intrisecamente ligadas ao crescimento, segurança e a história propriamente dita de cada lugar.
As cidaeds modernas nascem sem muralhase é isso que as difere das cidades anteriores. Porém, as muralhas não desaparecem. O que houve é que elas perderam sua visibilidade.
A cidade só existe se houver a muralha dentro da qual ela se torna possível. Os muros é que dão a possibilidade de existência da cidaed, ela aparece em função das muralhas, tanto assim que normalmente, ela é o aspecto mais notpavel na cidade.
A metrópole moderna, já nasce assinalada por uma fissura indelével de onde brotarão as muralhas invisíveis.
[ Nicolau Sevcenko. As muralhas Invisíveis da Babilônia Moderna.]

E é exatamente isso oq acontece, as pessoas não só constróem muros e redomas ao redor de si mesmas, como também ao redor de seu bairro, rua, cidade, etc. Quem de nós não tem uma casa cercada de um muro?
Mesmo que se diga que é pela segurança, ou privacidade, nós fomos domesticados a construir muralhas para nos diferenciar, distanciar e, proteger dos atos, olhares e julgamentos alheios.

Estes guardas protegem a nossa muralha física do antigo Forte de São Marcelo. Mais uma grnade muralha da Cidade do Salvador.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Foi a primeira vez...


Agoniada e intensa. Quando as coisas acontecem tão rápido que você não percebe sequer o risco que corre, o melhor a fazer é mergulhar no mar. Pular de fora pra dentro de si, e se jogar no mar.
Fotografias sem sentido, trilha sonora alternativa, parques, jardins com mil flores. Tudo num turbilhão de idéias e imagens surgem agora na mente. Preciso escrever, como se cada palavra me aliviasse uma tonelada. E o ar entrasse cada vez mais em meus pulmões.
Fumaça de cigarro, buzina dos carros, nada que se rime, nada que se limite, apenas os sons de um sorriso agora mudo. Deu lugar as lágrimas e gritos surdos, e tudo ficou (...) Seco!
As pernas que se entrelaçavam na cama, suava e ardia a nuca. Uma língua grossa e macia descia pelo corpo, enquando os dedos se contorciam nos ferros da cama. Poderia ser medo, mas era prazer. E quando era medo sentia-se também prazer em tê-lo. E assim estava vivo, tudo aquilo que jurava ser uma história em mais uma tela de cinema.
A intensidade das palavras fazem a dor latejar no estômago, como uma ulcera mal tratada, que insiste em voltar todas as noites, quandos e está só no quarto escuro. Prefiro nao lembrar. Mas só de preferir, ja estou lembrando. Será mesmo que deve-se esquecer?
Vamos todos agora voltar ao que ainda não veio, como uma roda gigante presa na montanha russa. Uma tsunami de tranquilidade chega a minhas mãos. Foi um parto, nasceu e agora temos de cuidá-lo. Até que o proximo filho venha. Esta foi a primeira vez.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Roubo do Rádio Relógio

Moravam meus pais e eu, numa casa antiga, de corredor longo, quartos grandes, e barulhos noturnos. Os anos iam por volta de 1960, quando ainda eu não era avô. E as crianças gostavam de brincar nas ruas de Salvador, subindo e descendo no velho plano inclinado.

Certa noite, verão quente que crescia, meus pais foram ao cinema, e recomendaram dormir, sem fazer birra ou manha. Medo eu não tinha, mas se soubesse do que viria, choraria pois, a ocasião carecia de fato. Entrei pé a pé, fechando o cadeado grande do portão da rua, correndo pelo corredor longo e jogando-me na cama, debaixo do mosqueteiro velho.

A vela que mamãe deixara acesa, o vento de minha corrida já havia apagado. Ficou apenas eu e o breu da noite, e as sombras de monstro de minha imaginação. Fechei os olhos e tapei-me a cara. Agora era eu, e o silêncio barulhento dos sopros do ocaso.

E de repente pareceu-me gatos no telhado, correndo por toda casa. Gritar eu quis, mas não gritei, tremi o corpo e rezei um Creio Em Deus Pai. Da sala, desceu o barulho na cadeira-de-balanço, roncando velha nos ladrilhos de madeira. Estatelei! Valha-me meu Senhor Jesus, minha Nossa Senhora.

Foi num segundo, que do medo fiz coragem, saltei da cama feito lobo virado e respirei fundo sem ruído. Ia encarar o que fosse, pois menino homem eu já era quase, e valia-me uma aventura na madrugada. Fui até a sala. Pela luz que entrava da avenida la fora, vi o homem grande, de olhos arregalados e roupas suadas, esticando o braço para o rádio-relógio de papai.

Nós dois nos olhando assustados, quando os segundos parecem não ter mais fim, gritei! “Ladrão!”. E ele voltou por onde veio, feito Papai Noel no natal, fugindo pela chaminé, ele subiu na cadeira de balanço e fugiu por entre as telhas velhas do casarão. Continuei em pé na sala, cai no riso, e voltei para cama. Antes de chegar la, meus pais já estavam abrindo o portão la fora.

Contei o caso, mostrei o furo no teto, resolveram perguntar aos vizinhos, mas ninguém tinha visto nada, até mesmo o pescador que passava aquela altura da noite, com seu balaio na cabeça, e seus pés sujos de lama. Sujos de lama!

Chamei papai, mas ele não ouvia entretido conversando com os outros homens da vizinhança, não via que o pescador já era então o ladrão noturno. Seus pés de lama que ficaram gravados no chão da nossa sala, e na cadeira de balanço, denunciavam o gatuno. Precisa eu então, agora homenzinho, fazer alguma coisa.

Calcei as chinelas surradas, de subir e descer a ladeira, e fui cair la na feira da Água de Meninos. Perguntei por quem tinha visto o rádio-relógio, mas ninguém deu noticia do velho. Foi quando eu vi no balaio do pescador enlameado, o ladrão, a ponta do radio pulando pra fora, como quem grita “estou aqui, veja!”. Quando me abaixei para agarrá-lo e correr para casa, aquela mão grande e pesada juntou-se com a voz rouca do dono do bar, e veio também o ar quente com cheiro de pinga, me deixou empapuçado e quase bêbado... Prendi a respiração.

“Larga isso menino, é do peixeiro ali, meu freguês no bar”. Então voltei no rastro de minhas pegadas, ladeira à cima, até a casa de papai. Que já tinha chamado o guarda na pracinha, para averiguar o ocorrido. Notaram então as pegadas de lama, e foi minha vez de ser policial, contando de minha coragem la em baixo na feira. Papai sabia que sério eu estava, não mentiria com cousa tão real e grave. Foram atrás do pescador, e do balaio, trouxeram de volta nosso rádio-rológio, e eu poderia então, ouvir a rádio novela, comendo os bolinhos de peixe que mamãe fazia todo fim de tarde.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Suspiro


Gosto amargo na boca. Mais uma noite perdida em seu sofá de couro branco. Manchas de vinho tinto e restos de comida na mesinha central. Fôlego de fumante é o terror das manhãs de domingo. Precisa de água.

Abre a geladeira, e tem a impressão de que todo mundo cabe em muito gelo e nada de água! Uísque barato de beira de estrada. Mas a dor de cabeça e o enjôo... Não, estava mesmo só e naquela cidade, ninguém poderia interceder.

Tinha apenas vinte anos, mas já penava sob as dores de um mal de amor. Se é que tudo aquilo fora amor de verdade. Não sabia, pois o futuro ainda não trouxe as respostas. Queria apenas cessar a tosse, acender um natural e, observar a fumaça sumir por detrás das cortinas azuis de algodão.

Calor que fervia os miolos, fazendo coágulos de sangue por debaixo de sua pele. Mais uma vez pensou em água, queria um banho. Chuveiro frio, forte e tempo vagaroso. Quase uma bruma... Fechou os olhos e ouviu a porta bater na sala.

Aquela música dos anos setenta, justamente da época em que não se lembrava, pois não havia sequer nascido. O balanço da canção trazia uma saudade do que não se conhecia, do que não existia. E todo espaço fora invadido melancolicamente por aquelas notas sofridas e boas de ouvir.

Fechou o chuveiro, enrolou-se na toalha branca. Pensou que poderia passar os seus últimos dias de vida dentro daquele banheiro frio. Em posição fetal, no chão, como criança que perdeu o rumo do nada, sentia que tudo estava acabado. Ouviu a voz chamar seu nome, tinha pressa. Levantou-se devagar, como quem sentia dores na alma. Pensou talvez que poderia segurar no pulmão o passar dos minutos. Inútil tentativa.

A voz agora gritava nervosa. E dizia verdades de quem também sofria, por erros alheios e irrevogáveis. Estava mesmo tudo findado. Lágrimas não adiantavam. As mãos fugiam, não mais acalmavam. Os braços agitados não cabiam mais no seu abraço. Dor e medo.

Bateu a porta, não disse adeus. Os passos nas escadas selavam o que a mente há tempos já dava sinal. Precisava sumir fechar-se em sua toca, trancar as portas para o mundo e internalizar tudo o que era essencial. Não chorou, gritou. Não penou, agradeceu. Não sorriu, mas criou a sua liberdade depois de sua intensa reflexão. Rabiscou num papel o endereço, deixou as chaves em cima da mesa e saiu. Para nunca mais voltar para aquela voz.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

420 ml de Jardins e Flores


As palavras começam a escorregar da mente, vazam líquidas pelo corpo, escorrem pelos dedos e pingam suaves no teclado frio do meu computador. Alguém me chama pra dançar, a tela brilha. Mais um cigarro, e outro, outro. Um incenso queimando mirra. Luz de velas.

As fotografias espalhadas pela mesa, pés descalço no chão frio. Atrás de mim uma criança com seu mundo de poder brincar. Meus braços tremem. Por mais que as coisas estejam organizadas em minha mente, meu corpo dói, meus dentes rangem. Água do lado do mouse. Vai cair.

Cheio de maresia no início da noite. A quem quero falar, molha-se com gotas de chuva. Ele sorri para outras, encanta outras. Será que pensas em mim? De certo que não. A música toma conta do ambiente, biscoito de água e sal.

E quando era criança, gostava de sentar na praia e construir pequenos castelos. Depressa, lá vem a onda. Girando, girando, girando. Felicidade, diz a canção. Concentro-me em pequenos momentos, flashes na minha memória. Amigos distantes, amigos presentes, saudades.

A vida é feita de saudades, amores e decepções. A felicidade rodeia-nos, mas nunca pára. A felicidade trabalha no parque da vida. Ela trabalha na roda do carrossel. Oras passa por mim, mas eu vejo, o amor trabalha do lado oposto, então assim, vai-se a vida.

Descarta-se a memória daquilo que não foi bom. Mas por quê? Creio ser necessário, para futuros novos erros, aqueles que certa vez, correm o risco de virarem acerto. Pois todo mundo joga pra perder, quando ganham, tornam-se surpresos, festejam.

Suor, mosquitos, grama molhada. Pular no mar só para ver se você me nota. Preciso registrar minha existência através das palavras, dos nossos sons, das nossas fotos, dos nossos filmes, através de você, vou sumindo pela longa trilha de terra, água e mar.

Eu, somente eu e mais ninguém. Assim serei. Importa-te com isso?